Monday, August 16, 2010

A grama do vizinho é sempre mais verdinha - mas nem sempre

Como muitos de vcs já sabem, a minha casa é meio que da mãe Joana, um entra-e-sai de gente num vai-e-vem sem fim. Tudo bem, eu gosto de gente, gosto de visitas - salvo aquelas um pouco mais folgadas e sem noção. E, diga-se de passagem, visita, para me incomodar precisa literalmente mudar minha mobília de lugar, fazer listinha do supermercado e me mandar fazer compras ou ignorar o preceito básico de qualquer visita: enquanto na casa dos outros você permance visita, vira dona da casa quando comprar e fizer registro em cartório.

Enfim, essa introdução básica é somente para ilustrar o meu caráter comunitário, de uma pessoa que tem no currículo muitas, mas muitas visitas. E as visitas nâo cessam de me surpreender. Vejam bem, eu nunca fui pra casa dos outros e abri a geladeira sem pedir, salvo na casa da vó, a quem eu avisava que iria pegar um refrigerante na geladeira. Até na casa dos meus pais, que são meus pais, eu limito as demandas: peço, quando cabe, às vezes estico um pouco os limites, mas são meus pais, e enquanto pais, o limite é amplo.

Bem tem uma criançada que vive vindo aqui em casa. São as crianças dos vizinhos. Eu já havia avisado a nossa santíssima au-pair (que se Deus ajudar, ficará conosco por um bom tempo) que há que se manter esse povo europeu em rédea curta. Enquanto por aí corre que a fama brasileira é justamente a do povo folgado, eu replico que povo folgado é esse povo europeu. Alguns deles acham extremamente natural vir na sua casa quando querem e quando lhes dá na telha, mudar seus móveis de lugar, fazer listinha pro supermercado e achar que estão em própria casa sem ter feito registro em cartório - e o exemplo é o mesmo de amigas e amigos que convivem com as famílias e vizinhos europeus. Bem, eu avisei nossa santíssima au pair. AS crianças da vizinhança são uns amores, vêm chegando na maior educação. E como nossa querida santa au-pair estava ainda em processo de exploração de terreno, foi traída por essa doçura - mesmo diante dos meus avisos - e resolveu partir para a investida ela mesma - o que é sempre válido, visto que é provado que um sempre aprende melhor tomando na cabeça.

Entre um abrindo a geladeira pra pegar suco, o outro falando pra ela fazer bolo, o outro desobedecendo instruções e carregando a molecada toda pro trampolim lá fora, o vai-e-vem da casa deles para cá, de cá pra lá, o tocar da campainha incessante, ao bel-prazer e sem consideração alguma sobre a rotina da casa e das crianças da casa, e ainda por cima dando bronca e ameaçando palmadas nos mesmos, ela se encheu com o saco, se espalhou toda e botou a criançada toda pra correr.

Agora ela já entendeu como é esse esquema europeu. Tudo muito regrado, em própria casa, obviamente - na dos outros, nem tanto. Eu juro que não entendo. Prefiro muito mais aquela cordialidade tupiniquim, onde há a aparente abertura juntamente ao respeito pelo espaço alheio. Esse negócio de aparente educação juntamente a avacalhação do espaço alheio, definitivamente, não é comigo.

2 comments:

Ma said...

Ah, compartilho da sua indignação. No Brasil eu ficava em casa com aquela camiseta velha desbotada e rasgada super confortável, de preferência só em trajes menores por baixo. Mas aqui é um tal de vizinho tocar a campainha pra guardar pacote ou perguntar qualquer chatice, ou criançada grirtando JUUUULIAAAA pra brincar da varanda, que tive que virar madame da novela das oito que acorda e tem que ficar arrumada dentro de casa como se fosse sair.
E ó, eu não abro a porta da geladeira, não, tá, sou educadinha :) Beijocas

Delma said...

Muito bom, engraçado. Eu tinha esta mesma atitude, até nas casas de parentes. Às vezes eu ficava parada na porta da pessoa, esperando ela falar pra eu entrar...e ficava em pé que nem nabo, e só entrava APÓS a pessoa dizer que eu poderia entrar. Minha mãe dizia que se eu pedir para comer alguma coisa na casa dos outros e ela soubesse, eu apanharia. Até hoje sou assim, não abro geladeira alheia nenhuma a não ser do meu santo lar. Eu imaginava que os europeus, tão cheios de si, fossem mais educados.

Beijinhos