Thursday, March 19, 2009

Open, open, open
Essa história de open space ainda vai render muito. Quando vim trabalhar aqui, onde estou, eu ganhei uma sala. Para quem sempre havia trabalhado com uma cambada de malucos, a mudança foi radical. No início, eu sentia até mesmo fobia, enfiada na minha sala, desconectada do mundo, me sentia até mesmo, alguns dias, triste, e nem minha vista para o Jardim Botânico amenizava minha solidão. Saía justamente para andar e ver um pouco de gente. Isso foi no começo, quando as pessoas não haviam me descoberto e eu tampouco às outras pessoas. Depois de um certo tempo, começou o fluxo de gente a entrar e sair, a pedir coisas, informações, a trabalhar e fazer reuniões. Tenho também visitas de gentes que vêm somente desabafar: seja porque eu não me assuste com nada, seja porque muita gente me considere como bons ouvidos, seja porque eu tenha sempre algo pra falar, ou seja simplesmente porque eu tivesse uma sala. Ver a porta da minha sala fechada significava que algo confidencial estava em andamento - seja trabalho em si ou problemas pessoais ligados ao trabalho.

Agora, somos quatro a dividir um espaço que é conectado a outros espaços sem portas. Não é bem um open space, mas o meu carinhoso apelido dado ao nosso buraco atual é favelinha. Primeiro que das quatro mesas, nenhuma é igual é outra. SEgundo que o projeto foi tão esperto e o dinheiro tão escasso, que não há conexões elétricas por toda parte, o que significa que há fios passando pelo meio do corredor, desordenadamente, maloqueiramente. Terceiro que como colocaram uma parede abaixo, e o tal do carpete havia sido posto quando as paredes ainda estavam de pé, restou uma faixa de buraco no carpete no meio do ambiente, o qual tentaram camuflar com pedaços de carpete encontrados em outros cantos. Não há nenhuma harmonia de móveis acessórios, não há organização, e favelinha é realmente a comparação exata. Um dia ainda tiro foto e mostro aqui.

A favelinha por supuesto pressupõe que a comunicação entre vizinhos passou do estilo suíço de marcar hora ou bater na porta, para uma farra meio que desorganizada, com picos de conversa mais para o final do dia. De alguma forma, pela manhã, fica todo mundo concentrado na própria tela do computador, nas ligações, nas visitas e nas reuniões. Lá pelas 3 da tarde, com o sol que bate na janela que não mais pode ser aberta (don't ask), começa a se instaurar o esquema trabalho com comentários. Todo mundo comenta os emails, as planilhas, as análises e até mesmo os visitantes. E eu, mais que todo mundo.

E eu falo muito, é verdade. Pelos cotovelos. Tenho uma capacidade enorme de tecer um comentário sobre o nada. E adoro inventar novas maneiras de interagir com interlocutores. Como a comunicação aqui é em grande parte em inglês, agora instauramos que de 3 às 4 falamos com um sotaque. O primeiro foi do sul dos EUA, lugar onde morei e o qual, se me derem 5 minutos, consigo repodruzir - porque preciso entrar no espírito da coisa. Outro dia falamos com sotaque indiano. E n'outro francês e ainda italiano.

Ontem, saindo do trabalho, disse que nossa, essa coisa de open space faz a gente falar muito. Ao que um colega retruca que essa coisa de open space ME faz falar mais ainda. E é verdade. Ontem então prometi que hoje não abrirei minha boca pra nada, ficarei muda e sairei calada. Ninguém acreditou. E pra falar a verdade, acho que nem eu estou lá botando muita fé. Mas, de todo modo, reconheço que agora precisarei adapatar-me a algo que há muito, muito tempo desconheço: como trabalhar em ambiente comum sem importunar os outros com meu excesso de extroversão e falação. Será um exercício diário. Se eu acreditasse em agluma coisa, até soltaria um Deus me ajude. POrque só mesmo colocando em mãos divinas para eu tomar jeito.

Ah, e hoje completamos, senhorio e eu, 4 anos de comunhão parcial de bens. Quem diria. Estamos há 8 anos juntos. 8 anos, minha nossasenhoradaaparecida. Se eu consigo e posso, digo que qualquer um pode. Era eu praticamente um caso dado como perdido nessa coisa de instituições e coisa e tal. Mas isso é assunto pra outro post. Fico aqui com um congratulations to us, nós merecemos.

3 comments:

veridiana.ferrari said...

essa sua descrição do open space mais pareceu a descrição do lugar onde EU trabalho.
favelinha, sim, senhor. tudo bem que lá, as ilhas e estaçoes de trabalho agora são padronizadas e nao há mais fios espalhados, mas tirando isso, a coisa toda é muito parecida com a sua. a comunicação tb acontece mais ou menos assim - e eu, assim como vc, sou a que mais 'perturba' os colegas comentários inuteis, reclamações, coisas sérias. la, temos uma espécie de msn, entao, quando é pra fofocar, a gente segura a onda e 'tecla', mas, no geral, a falação corre solta.
antes, trabalhava numa sala, com o pessoal de minha equipe e, quando tivemos de mudar para o 'salao', fiquei um pouco incomodada. hoje, acho que nao saberia voltar à salinha.

ah, e que pena, por aqui a gente nao fala em ingles, muito menos com sotaque. o povo mal fala o portugues. hehehehe
ou seja, favelinha aqui também!

beijocas!

Ma said...

Posso te ensinar o sotaque escocês, a frase chave é "There's been a murder", puxando o "r"bem enroladinho na língua, morro de rir cada vez que escuto minha amiga brasileira imitando. Parabéns pelo anniversary! Bjs

Ana Néca said...

Shoushou! :) que gostoso esse post; adorei! Talvez pq também trabalhe num open-favelinha, pq também fale demais e pq TAMBÉM (ora veja) precise treinar esse respeito pelo momento de trabalho alheio...

E puxa vida, 4 anos! Quanta coisa! Que tudo de tão bom!

Montón de coisas aconteceram aqui. Namoro continua (tivemos um interstício aí, mas já voltamos).
Trabalho bombando animal - vc tem lido algo sobre publicidade de alimentos dirigida ao público infantil nos jornais? Pois se tem, o barulho todo é culpa nossa. Segunda-feira começo a minha pós em Gestão da Comunicação na USP. Eeeeeee! :) Ler, ler, ler!

Quando vier, café na certa! Saudades dessas horas boas falando sobre nada..! :)

Um beijo enorme Menina Margot! E nos três escudeiros aí tbm!