Tuesday, March 04, 2008

O mundo e eu
Essas várias semanas de trabalho intenso me colocaram realmente muito cansada. Acima de tudo, percebi que nesse período, minhas conexões com o mundo real resumiram-se ao jornaleco gratuito Le Matin Bleue que leio lá na cafeteria quando vou buscar meu kit café-da-manhã, à rádio que escuto vindo e indo do trabalho, aos blogs de amigos que tento passar ao menos umas 3 vezes por semana e aos portais que normalmente visito. E vi que perdi um monte de coisas, que estou, aos poucos, mas seguramente, tornando-me uma alienada do mundo, forçada a focar na minha vida porque simplesmente não tenho tempo (e nem disposição) para interessar-me sobre assuntos que outrora eu acompanhava ferrenhamente.

Esse processo de introspecção mediativa iniciou-se quando da chegada do primeiro rebento e acentuou-se com a chegada da segundinha. Outros fatores que colaboraram para o aumento dessa minha alienação são seguramente minha carga horária, o fato de que meu computador não mais me pertence (se alguém me vê no Skype, não sou eu, mas nossa au-pair) e o conflito de horários do jornal na TV e da hora pré-naninha da minha criançada.

Dei-me conta desse fato quando pus-me a pensar sobre os atuais candidatos democratas à eleição americana. Tenho assim, uma queda pela Hillary justamente por seu percurso - que acompanhei em outras épocas - por seu crescimento político e por sua força como mulher. Não sei absolutamente nada do Obama e justamente por isso é que minhas sombrancelhas se levantam. Como muitas vezes conversei com ela, em nossos papos de comadre ao telefone, eu não sei nada desse cara, que para mim surgiu feito fênix das cinzas, e que me lembra em muito a aparição bombástica de um certo presidente de nossa história tupinquim. À parte desse gut feeling, não tenho muitos argumentos para não gostar muito desse candidato. E só.

Assumidamente, minha vida de maternidade me trouxe isso. Sem grandes traumas e nem repercussões. Porque sei também que é uma fase, que enquanto a prole for assim, tão pequena e tão dependente, minha vida será mesmo um pouco menos minha. E tudo bem.

Em todo caso, que diferença faz o que eu penso sobre os candidatas americanso às eleições? Mal tenho tempo de tocar a minha vida, quem dirá promover debate público. Quizá ainda ter a ingenuidade de acreditar que as pessoas estão nesse mundo pra trocar idéia. A grande maioria está mais é pra fazer discurso e arrumar platéia. Alguns discordam e não têm argumentos plausíveis suficientemente embasados, então partem pra ignorância e achincalham com adjetivos pejorativos, ou então enchem-se de atributos qualitativos para justificar suas próprias razões, ao estilo eu sei porque sou mestre no assunto. Outros discordam educadamente e partem para a ofensiva de guerrilha: amealham legionários, estabelecem postos de controle, tudo passa a ser vigiado e colocam armadilhas pela selva virtual.

Então que essa minha vida de mãe me relega a um papel muito mais pessoal e esse blog a um tom muito mais confessional. No entanto, quando escuto o que se passa e quanta bobagem se diz, não deixo de ficar ainda atônita e de sentir uma certa vergonha pelas pessoas e suas idéias equivocadas, ou suas justificativas mal-informadas. E é uma pena. Porque essa selva virtual poderia ser uma grande fonte de troca de informações. Em sua grande maioria, infelizemente, é somente uma grande troca de estereótipos e formação de clubinhos, e, de certa forma, me faz feliz estar à esgueira de tudo isso. Porque ainda que minha vida esteja assim, tão pessoalmente vivida e carimbada ao momento, eu sei do meu papel e dos meus desafios enquanto profissional e cidadã do mundo. E isso, no momento, se basta e me basta.

Ah, e aviso aos desavisados, dentro em breve é dia da mulher. Uma enxurrada de baboseiras será dita por aí. POr favor, eu, na condição de mulher, mãe, profissional, expatriada, esposa, filha, irmã e amiga, não me encaixo na grande maioria dos equívocos alimentados pela desinformação. Só pra esclarecer. E, felizmente, eu estarei bem à revelia de tudo e só saberei dos maiores escorregões por acaso. E ainda bem.

1 comment:

Dani said...

o dia da mulher se aproxima. e com ele, o festival de ideias equivocadas na blogosfera. eu nunca entendi muito bem esta data, porque dedicar um dia ah mulher eh paternalismo. enfim. nao eh legal viver alienada, mas nao sei se ser alienado tem a ver com informacao ou a sua capacidade de entender o que estah ah sua volta. conheco gente que le jornais e assiste noticiarios e nao sabe nada do que realmente se passa no mundo. sei la. as vezes, voce por si so, fazendo a sua parte esta muito mais interada do que quem esta informado. ha epocas em que o umbiguismo eh necessario. mas nunca eh uma postura tao isolada - porque ainda se interage com o outro. beijocas!