Wednesday, October 10, 2007

Momento umbigo
Sou uma pessoa caótica e organizada. Se vc olhar meu escritório ou minha bolsa, se perguntará como pode um ser humano fazer tanta desordem com tão pouco. Papéis praticamente caem das paredes, objetos desordenadamente distribuídos sobre a mesa, sobre o computador, caixas que não foram desfeitas desde a ocupação do MSE (movimento do sem escritório - o cara que ocupou minha sala quando estive de licença), as cadeiras estão assim, largadas sem disposição definida, e o armário, bem, tem muita tranqueira e eu preciso fazer uma limpa. Minha bolsa, objeto de escárnio de senhorio, é um mundo de papéis, tíquetes, remédios, recarregadores, glosses e outros pequenos cacarecos tão indispensáveis à sobrevivência de uma mulher. OU à minha sobrevivência. Mas, dentro dessa desorganização, eu sei onde tudo está e onde tudo se encontra. Aqui, nesses meus pequenos mundos, onde ainda posso instalar meu caos, eu sobrevivo e me viro muito bem.

Senhorio, ao contrário, é o organizado caótico. Ele gosta das coisas regradinhas e colocadas com uma certa sensação de ordem aparente. Em seu escritório, a carteira está em cima do passaporte, fazendo um ângulo perfeito com a quina da mesa. O celular está ao lado de ambos, assim, em harmonia. A caneta é colada transversalmente sobre a carteira. Não há papéis, não há cacarecos. Se há papéis, eles estão organizadíssimos, dentro de uma daquelas bolsinhas trasparentes. Até a caixa de email dele vive limpa, apesar dos mais de 100 emails diários que recebe. Passa o dia a reorganizar as pequenas coisas, e transparece uma sensação de conforto e prazer, às vezes seguidas de um suspiro, quando acaba de colocar tudo em seu devido lugar.

No entanto, e aí vem dessas coisas incongruentes, na nossa vida a dois, sou eu quem tem que saber onde tudo está. Em sua angústia por manter a aparente ordem, ele vai sumindo com os mais variados ítens e depois não sabe dizer onde estão. Eu, no entanto, em minha desordem, e talvez justamente por ela, tenho que saber exatamente onde tudo está para que eu possa encontrá-las. Ele tem uma falsa sensação de organização, enquanto eu dou falsa percepção de bagunça. Nossa papelada toda sou eu quem organiza. Tudo bem que posso deixar uns envelopes aqui e acolá à espera de irem pro arquivo. Ele coloca tudo dentro das pastas sem lógica alguma, amontoa o que vier pela frente e bota lá dentro. Ai de nós se precisarmos de algum documento em específico, porque aquilo vira uma terra de ninguém. Então, eu cansei, eu faço. E ele agüenta o quanto pode a minha bagunça acumulada.

Nessas, e porque eu conheço bem meu eleitorado, sou eu quem está fazendo o processo de limpa da casa e empacotamento. Se deixasse nas mãos dele, sei que, no seu afã por sumir com a zona, ele empacotaria tudo num piscar de olhos. Estaria tudo lindo em caixas, tudo guardado, empacotado. Mas aimeudeus encontrá-las depois.

Ou seja, dentre todos os meus papéis, agora assumi mais um. Sou aquela que fica ali ao lado do caixa, a empacotadora oficial. Só não faço enfeites.

2 comments:

Ricardo Machado said...

Em termos profissionais, eu diria que o seu algoritmo de indexação e busca é muito mais eficiente...

Maria Fabriani said...

Eu sou um híbrido de vocês dois. Gosto de poucos papéis na minha frente e, se existirem, têm que ser arrumados. Mas, ao mesmo tempo, sei exatamente quais os papéis que estão arrumados e onde eles estão. Mas desde tive Max dei uma relaxada geral..