Thursday, August 06, 2009

Eu e o cigarro
Nós começamos nossa relação tardiamente. Eu devia ter uns 18 anos e sempre me perguntei porque raios comecei a fumar com tanta idade. Pra quê? Enquanto todas minhas amigas deram as primeiras baforadas nas tenras idades da adolescência e até pré-adolescência, eu me enveredei pelos caminhos do tabaco aos 18 anos. Como diria meu pai, devo ter comido criancinha quando era m*rda.

SAlvo algumas fases um tanto estressantes na minha vida, eu nunca fui uma fumante de carreira, segui relativamente amadora no assunto. Gostava das minhas baforadas, mas podia passar sem as mesmas da mesma forma. Não me lembro em qual idade, mas creio que foi quando comecei a trabalhar feito gente grande (de carteira, crachá, emprego, miserite, seguro saúde e plano de carreira) que restringi o esporte de soltar fumacinha aos períodos noturnos. E, como eu malhava bastante naquela época, o cigarro por muitas vezes era aceso somente depois das 10 da noite. Sempre aceso, diga-se de passagem.

É verdade, eu tinha o hábito. Algumas situações chamavam pelo cigarro, automaticamente. Em baladas, se fossem das boas e longas, era capaz de dar conta de meio a um maço. E finais de semana eu sempre fumava mais, seja porque ficava assistindo às coisas madrugada adentro, seja porque estivesse nas tais baladas, seja porque tivesse mais disponibilidade.

Quando vim morar nos lugares europeus, acho que o consumo tenha se intensificado. As Europas acomodavam muito bem os desejos do fumo. Quando cá cheguei, era possível fumar em restaurantes, bares, casa dos amigos e afins. Desde então, a polícia anti-tabagista também aterrou pelos lados cá, e as leis que proíbem fumar em restaurantes, bares e por semelhança na casa dos amigos e afins foram aplicadas sem misericórdia. Acho que só a Suíça ainda não encontrou acordo com relação ao assunto - e os países do leste europeu. Vale dizer que, em geral, o europeu não segrega fumantes. São ainda considerados pessoas, como quaisquer outras, e ainda não virou caça às bruxas por esses lados.

Fumar é um vício muito estranho, sempre achei. Engole-se fumaça para soprar fumaça, sendo que não há absolutamente nada, nada que aconteça. Há uma sensação de prazer com engolir fumaça? Muitos fumantes dirão que sim, outros dirão que não, dependendo da relação da pessoa com o cigarro. Para mim, foi uma questão de associação do cigarro com determinadas coisas que sempre me compeliram a fumar e eu diria que cada fumante terá a sua própria explicação para associar-se com as baforadas. Espanta-me, ainda assim, como o cigarro ganhou proporções. Contrariamente ao álcool que produz uma sensação, o cigarro tem seu fim em si mesmo, ser consumido e findo, deixando somente seu gosto.

Quando engravidei pela primeira vez, o cigarro foi por mim naturalmetne repelido. Como fui pega de surpresa, dei-me conta de que não havia fumado já por uns dias quando me descobri prenha. Admirei-me com a rejeição natural de meu próprio corpo. Conheço e presenciei grávidas fumantes, essa criatura tão em voga durante os anos 60. Tem uma no trabalho que muita gente não soube que estava grávida até os momentos finais. Como ela é uma mulher de grandes proporções que aparentemente não mudou de figura, visto que perdeu peso durante a gestação, e como continuava a freqüentar o fumódromo, ninguém nem suspeitava que estivesse grávida. Seu bebê nasceu lindo e saudável, diga-se de passagem, assim como os bebês das outras grávidas fumantes que conheci.

Mas então que, sempre acabava flertando com o tal do cigarro após desmamar minhas crias. Em ambas as gravidezes eu parei de fumar sem problema algum. E do mesmo jeito, voltei a fumar. Meu cigarrinho noturno, como de hábito.

E então que segunda-feira eu acordei e me decidi a deixar o cigarro como assunto do passado. Nem sei ao certo porquê. Ele não me faz falta e simplesmente não tenho tido mais vontade de fumar, numa ausência de desejo tão natural que foi impossível negar. Ah, sim, muita gente dirá que nem todo fumante pode simplesmente parar de fumar. Mas, nesse ponto, eu talvez discorde. Basta, ao meu ver, decidir-se. Contrariamente às outras vezes que parei por motivos, digamos, alheios à minha decisão, agora, essa daí é minha mesmo. O processo decisório acho que é como um auto-convencimento para comprometer-se a ficar longe do cigarro. E agora, com essa vida um pouco mudada, pouco, mas o suficiente para que eu dedique partes da minha vida para algumas coisas que me interessam, eu vi que era chegada a hora de mudar isso também. Então, foi em 2009 a última vez que fumei um cigarrinho. Se 2009 não trouxer nada demais, já trouxe isso.

3 comments:

Dani said...

parei em julho de 2007 de um jeito semelhante ao seu agora. daí, quando o cerco da dissertação começou a apertar, ano passado, recomecei. em geral, não fumo durante o dia. no fds, sim, porque namorado fuma. mas tento não exagerar.
não tenho ilusões, no meu caso - posso parar, mas sei que quando as coisas ficam estressantes, que é a primeira muleta em que penso.
estou tentando parar de novo, porém, só preciso encontrar uma fórmula, por causa do respectivo. aliás, ele precisa parar também.
boa sorte para nóis,
beijocas

veridiana.ferrari said...

Eu nunca gostei de cigarro, mas experimentei cedo, acho que tinha uns 16 anos – e passei mal, fiquei zonza, vomitei.
Ainda assim, na época da primeira faculdade passei uns meses fumando com freqüência. E, assim como você, o cigarro era associado a algo que o pedia. Em meu caso, o cigarro vinha junto com sair da sala de aula e sentar na escada, para tragar um com os amigos ou, então, vinha junto com os intervalos e momentos de ociosidade – tudo no campus, claro. Em casa, nunca sentia vontade. Neste período, creio que pela freqüência que fumava (era diário) não tinha mais a zonzeira, nem passava mal ou vomitava.
Isso faz uns dez anos. Não tenho amigos fumantes. Um casal, apenas. E ano passado arriscava umas pitadas quando vinham a minha casa, mas a sensação já não era a mesma.
Há um mês, mais ou menos, senti vontade. Passei umas duas semanas chegando em casa e desejando ter um cigarro. Até que comprei um maço e fui fumar onde? Na escada. A reação? Igual: náusea, zonzeira, mal estar. É incrível o efeito que a nicotina tem em mim – e eu odeio. Gosto de puxar a fumaça e soltar, mas não gosto do cheiro que fica entre meus dedos, nem do gosto, nem do hálito. Gosto, ainda menos, do mal estar. Mesmo assim, insisti. Por alguns dias, chegava da academia e, antes de tomar meu banho, sentava na escada e ficava ali, olhando para o nada, pensando na vida, e fumando. Nem sempre dava conta do cigarro todo.
A ultima vez me fez tão mal, que desisti.
O maço tá lá, guardado, mas eu não nasci pra ser fumante.
Interpretei o que você disse mais ou menos como: não é o cigarro o foco, mas o contexto, as coisas envolvidas no ato de fumar (e essas coisas são variáveis, claro, de pessoa para pessoa). Pra mim, estar ali, na escada, olhando para o céu e pensando na vida era o que me levava a acender o cigarro. Porque, caso não tivesse o mesmo, não abriria a porta de casa para sentar-me na escada, que é um lugar comum, por onde passam vizinhos com quem não tenho o menor contato.
Enfim.
Que bom que decidiu parar.
Não falo isso como alguém que quer tolher a liberdade do outro de buscar aquilo que lhe ‘apetece’, mas a gente sabe que cigarro faz mal (ainda que me venham dizer que tem gente que morre de câncer no pulmão sem nunca ter fumado na vida, não importa, quem fuma tem maior probabilidade para essa e outras doenças). Digo ‘que bom’ porque, se não há o desejo, pra que buscar algo que, no fundo, não traz beneficio algum, né?

Beijocas!

Maria Fabriani said...

Eu nunca fumei depois de ter provado um marlboro com a minha prima quando ambas tinham 10 anos. Fiquei verdinha e achei que ia morrer. Nunca mais toquei no troço e tinha pavor quando minha mãe e meu pai fumavam perto de mim. Não gosto do cheiro, não gosto da fumaça e tenho horror aos cinzeiros. Ainda bem que você parou, queridoca. Força aí.