Thursday, July 09, 2009

Confabulada
Tenho aberto a janelinha de posts do blogger com total insucesso. Parece não haver muita coisa pra sair de mim, ainda que muita coisa aconteça. Enfim, pra mudar de nota, eu vi aquele show "slash" funeral na terça-feira, e tenho que dizer, senhores, que variei entre admiração pelos artistas, discursos e performers e uma sensação de estar assistindo algo muito, muito bizarro. Ao menos, agora, pararemos de falar dos narizes alheios.

Essa fase do 30 e qualquer coisa indo para os os 30 e tantos tem sido um tanto bizarra. Entre a total vida adulta assumida, de filhos, casa, trabalho e o que o valha e os questionamentos que sobram sobre rumos, vida, felicidade e paz há tanto, mas tanto a falar que fica difícil saber até mesmo por onde começar. O que sempre me traz a sensação de relativa tranqüilidade com relação às minhas escolhas é o conhecimento dessa vida e que, por mais complexa que ela possa parecer, eu a escolheria novamente. Isso talvez indique que esteja eu contente e certa das minhas escolhas, mas nem tudo é tão preto no branco ou coeso, para ninguém. De certa forma, há muito sangue, suor e lágrimas, há um esforço realmente muito grande para a troca com os prazeres, o que não necessariamente era verdade quando penso na minha outra vida, aquela solteira, childless, com muito trabalho e tempo de sobra pra mim. No entanto, reconheço que a memória romantiza o passado, e sei que ali, naquele meu momento, o sangue-suor-e-lágrimas também rolavam soltos.

Li um post dela sobre esse cumprimento de atividades e sequência de fatos que ocorrem nessas vidas adultas, de gentes e pessoas com, talvez, escolhas parecidas com as minhas. De certa forma eu me vejo nesse eterno cumprimento de tarefas, nessa seqüência de obrigações, e creio que a comparação com a gincana que ela fez é muito apropriada. E não há poréns, não há nenhum "mas", não há nenhuma sublimação da vida de mãe, profissional, mulher, esposa e dona-do-lar. Há somente, em um âmbito totalmente pessoal, particular e individual, a constatação de que esse foi meu caminho, essas foram as minhas escolhas, e por mais difícil que minha vida possa parecer a mim e aos olhos de outrem, por mais complicada, por mais ausente de contrapontos, de honras ao mérito, ela resta ainda como uma seqüência de escolhas que foram por mim feitas em busca daquilo que todo mundo busca, aquela tal felicidade.
É óbvio que ao longo de escolhas erramos e acertamos, aprendemos, fazemos ajustes que nos são cabíveis. Daí a minha reticência em aceitar soluções genéricas, daí meu desprezo com livros de auto-ajuda, daí minha certa aversão aos movimentos de boiada. Tenho consciência de que minha vida, por mais ordinária que seja, por mais que eu reconheça que ela seja exatamente isso, é, contraditoriamente, única, única em suas escolhas, única em sua história. Talvez nada disso pareça fazer sentido, mas a verdade é que eu tento dar sentido ao que para mim parece fazer sentido.

Existe uma certa aura de que o que é especial é o que sai da norma. Pois eu posso me considerar hors-concours em diversas instâncias, ao mesmo tempo em que posso me considerar totalmente ordinária em tantas outras. No entanto, acho que o conceito do que é especial como sendo o que sai da norma um dos grandes equívocos da Humanidade. Não se trata de uma constatação do óbvio, haja visto que Mozarts restarão Mozarts, Michael Jacksons restarão Michael Jacksons e Nyemyers idem. Mas, parafraseando esse último, essa assumidade da arquitetura, esse ícone mundial de origem tupiquim, tudo isso não é importante para um indivíduo, o que resta importante para o indivíduo é a própria realização pessoal, é a própria felicidade, é trilhar o caminho que corresponda ao próprio conceito de beleza, de sublimação. POrque ao final, ao final é isso o que importa, são as pessoas, são os carinhos, são os amores que importam, são os prazeres, as escolhas que nos levaram a viver o que para cada um de nós nos trouxe o que mais aproximadamente se encaixava como quisto. E só.

1 comment:

Anonymous said...

Os 30 e muitos nos dão uma sensação de meio caminho andado, de saber um pouco mais de tudo e a cada dia descobrir que não sabemos nada.
Coloca mais um pontinho no seu caderno pq pra mim vc é muito especial, um pouco ordinária, mas muito especial. Saudades, Lik