Da minha vida ordinária
Minha santa au-pair atingiu aqueles níveis de independência e auto-suficência. Portanto, envio-lhe durante a semana ao supermercado para fazer as compras, assim fico eu salva de enfrentar o mar de gente naquela selva inóspita chamada supermercados aos sábados. Pequeno porém é que por vezes ela volta com umas coisas bizarras. Outro dia pedi-lhe frango (poulet) e ela me volta com um pato (canard). N'outra instância requisitei comprar salsinha (persil) e ela me volta com coentro (coriandre). Bem, reconheço primeiramente que ela já sabe mais de ítens culinários do que eu na mesma idade. E no mais, lá em casa, sigo os preceitos de Lavoisier: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

E então que minha santa au-pair já se vai. Quando da nossa ida ao Brasil, agora iminente, ela fica e voltaremos com outra. ESsas estadias têm lados bons, a relação não se desgasta, o tempo por aqui tende a passar rápido, e tudo fica com gostinho de quero mais. O porém é que quando elas estão autônomas tudo transcorre melhor pra todo mundo, inclusive e sobretudo para elas mesmas, e autonomia só vem depois de alguns meses desbravando o desconhecido. Mas, como tudo tem que ter um fim, lá se vai ela. A próxima é da mesma faixa etária da primeira, o que, diga-se de passagem, não indica absolutamente nada. Notamos nessa última que, apesar dos 19 anos somente, ela teve mais maturidade com os dois monstrinhos, foi sempre muito mais organizada, e no final das contas, nos deus tão pouco trabalho que gostaríamos que ela ficasse. Ela volta para passar no vestibular com promessas de retorno. A ver.

Ter alguém em casa é primordial para nós. Nosso estilo de vida não comporta viver sem ter alguém com quem contar. Não temos família perto, ambos viajamos por conta do trabalho, ambos trabalhamos longas horas. Saber que eu não tenho que me estressar por conta de horários, idas, vindas, buscadas e afins melhorou em demasiado nossas vidas. Agora nós temos tempo para nós, nos finais de semana, durante a semana e tanto senhorio como eu já concordamos que esse será o esquema por um bom e longo tempo. Há, obviamente, o fato de ser custoso e de ter todo o tempo alguém em casa, o que sempre envolve planejar com mais um: viagens de férias, idas e vindas ao Brasil, sair pra comer, pra passear, etc. MAs nós garantimos que a relação custo-benefício é bem mais do que satisfatória.

A vida não está traçada nem definida - viver sob os preceitos de outras pessoas não somente é idiotice como garantia de infelicidade. Todo mundo, a toda hora, pode e deve escolher o que é melhor para si. ASsim, nem eu e tampouco senhorio temos ganas de ficar 100% em casa, essa escolha não seria aquela nos faria o mais feliz possível. Trabalhar é importante. Carreira é consequência. FAmília é importante, estar com nossos bigulinhos mais ainda. Para conciliar os objetivos, anseios, vontades e afins, adaptamos nosso modo de vida ao que melhor nos conveio, concordamos depois de muitas negociações que teríamos que ter alguém em casa e só constatamos depois que foi o melhor para nós. Digo isso somente para que se saiba, e não para justificar. A minha receita não se aplica a todo mundo, e assumimos que foi entre erro e acerto que encontramos nossa fórmula ideal. Não queremos mais abdicar dela. E por isso, antevejo que, se a vida continuar assim, ela sempre contará com uma au-pair.

Mas, vai saber, amanhã a vida pode mudar.