Friday, February 20, 2009

Da vida por esses dias

O inverno por aqui continua, nunca vi um igual. Caiu tanta neve lá em casa que as crianças devem estar achando que neve é um troço pra toda hora. Todo final de semana, o hooligan me pergunta se vamos brincar na neve. E lá vem ela que cai, seja domingo, seja sábado ou segunda. O frio também anda malvado. Hoje de manhã saí de casa e um -6 estava ali fora me esperando. Não consigo nem imaginar o frio das montanhas nessas noites. Agradeço meu aquecedor, sistema aerotérmico, que é econômico, eficiente e não faz mal pro meio ambiente - deveria vender o slogan.

Tenho amigos de longa data vindo ao meu encontro. Deve fazer uns vários anos que não os vejo. O carinho continua o mesmo. Saudades, muitas. Johnny boy e Renats, que não são um casal, mas amigos também. Ele agora em Paris, ela continua em Sampa, trabalhamos juntos no que hoje para mim parece outra vida. Éramos traders, quem diria. Em tempos de apocalipse financeiro, nosso passado parece lida de neanderthal.

Minha fofinha está naquela fase em que vomita palavras, o tempo todo num blablablá sem fim. Obviamente que ela não fala tudo corretamente e é um festival de risadas de nossa parte. Criança é uma viagem muito, muito legal, essa vida hoje tão diferente daquele passado é também cheia de descobertas. A maternidade transforma tudo, nem para melhor, nem para pior, mas ela seguramnte traz um outro tipo de realização, de prazer, de alegria. Não assumo que participar de tudo isso tenha que necessariamente incluir parir um ser, ou que seja necessário haver filiação genética ou legal, participar do crescimento e do amadurecimento pode acontecer de várias maneiras. Há pessoas que descobrem essa viagem através de sobrinhos, afilhados, agregados. E todos aqueles que participam sabem do que falo. Ver esses dois aprendendo, se transformando é uma experiência genial, e recomendo a qualquer sacristão, por qualquer forma que lhe seja aprazível.

No mais, o primo de minha sogra, que é muito jovem, está com câncer em fase terminal. Ele tem a pena 54 anos. Tem filhos pequenos (10 e 7). Meu coração anda pequeno por conta dessas coisas. Sempre me pego pensando se fosse eu, o que pensaria de minha vida, o que acharia do meu fim próximo e do meu caminho até ali. Não se trata de imaginação mórbida, mas somente um exercício necessário da vida. Ter consciência do fim de minha existência é somente um sabor adicionado às alegrias e tristezas de todo dia. Enfatizo que sou atéia, e talvez essa racionalização possa parecer até um pouco assustadora: para mim o fim realmente quer dizer o fim, não há casting para a sequência ou a parte dois, não tem fim aberto, minha obra é única e de um só tomo. Aceitar que me vou é uma realidade de todo dia. Aceitar que os meus queridos também se irão é que é o mais duro. Não se trata de desprendimento ou de grande nobreza de minha alma, mas somente o racional de uma mente pragmática. Se sou eu quem vou, não haverá dor a ser sentida, porque o fim chegou. Enquanto sou eu que fico, a dor me consome e a vida segue sensacional. Lidar com o perder alguém é um exercício de humildade, acatar o antagonismo da dor pessoal com a beleza de tudo que nos rodeia, com todas as gentes e pessoas que ainda têm que ser descobertas.

E hoje tem uma manifestação ao lado do meu trabalho. Esperam 20 mil pessoas. Liberaram-nos mais cedo pra casa. Sexta feira estranha essa.

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