Dos prazeres
Esses últimos dias têm nos reservado desssas pequenas surpresas tão agradáveis. Os dois pequenos estão numa fase muito, muito legal - é tão bacana ver esses bigulinhos crescendo e aos poucos virando gente. Agora o hooligan, que anda menos hooligan que de hábito, tem requisitado cada vez mais a participação da gordinha, que anda cada vez menos gordinha, mas a cada dia mais hooligan. Eles brincam juntos, o mais velho tenta levar a pequena pra lá e pra cá, e tem horas em que ela aceita a guia com prazer, tem outras em que esperneia porque não quer que ele a encaminhe para lugar algum. Aliás, ela é uma figura quando esperneia. Tem um piti, um piti mesmo, desses de nervoso puro. Nossa au-pair fala "ai, que nervo ciático". Virou a boa da fofinha.

Antes de ontem, após o jantar, nós ainda estávamos sentados na mesa bebericando o vinho nosso de todo dia e conversando, enquanto os dois brincavam no quarto do mais velho. Ouvíamos as conversas, que fora do contexto e do mesmo quarto, são incompreensíveis. As risadas, as gargalhadas, os gritos e mais conversas. E muito barulho, coisas mexendo, coisas caindo, coisas. Depois de uma meia hora resolvi subir para ver o tamanho do estrago, e fora a bagunça, eles quebraram o abajur e a lâmpada, espalhando cacos por todo o quarto. A gordinha pingava sangue do pé, mas nem sentiu pelo visto a fisgada que algum pedaço de vidro lhe fez.

A felicidade que sinto com essas pequenas coisas é por vezes incompreensível. Sei que deve ser uma das mais ordinárias de todos os tempos, porque desde que gente é gente que se tem filhos. Também tenho consciência de que alguns prezam mais esses momentos de bonheur do que outros, e de certa forma fico feliz que possa eu sentir as coisas dessa forma. Eu aprecio muitas coisas dessa rotina, o beijo de boa noite, o carinho sem aviso, o jantar bem degustado, os pedidos de comida, de brincadeiras, as tiradas, o aprendizado. Sei que meu tempo com eles é curto, mas tento que seja bem aproveitado. Não vejo a hora de irmos ao Brasil, curtir os primos e os tios, os avós, os amigos. E curti-los um pouco mais do que o normal.

Que fique assim, amém.