Monday, December 29, 2008

2008
Não gosto de fazer listas para o futuro. Vejo o final do ano como um corte na linha do tempo, que delimita e condensa fatos e acontecidos em um pedaço dele. 2008 foi um ano bom, de continuidade dessa vida adulta, de crescimento dos meus dois monstrinhos, de algumas tantas viagens legais, de reencontros e despedidas. Na verdade, o ano não foi lá muito diferente dos anteriores, mas 2008 deixou-me com um gosto de realização.

Eu ando muito seca em minha escrita. Ela não flui como outrora. Meus parágrafos são curtos - como é facilmente percebido. Não sei o que acontece. Algo aqui me contém e delimita. É verdade que não dá pra despejar em blog toda a essência de uma vida, mas eu acredito que esse meu cerceamento não se trata do que está do lado de fora, mas do que pode sair de dentro. Acho que ultimamente ando pragmática em toda minha possibilidade de sê-lo. Sempre fui, mas a vida agora demanda constantemente resolver e resolver, organizar para não me perder no meio dela, arrumar, consertar e resolver mais um pouco. Esse caráter parece fluir por tudo, influenciando na maneira como escrevo e também como falo e converso. Não há nuances, adjetivos, sugestões, há o que é, diretamente dito, economizado e por vezes cuspido. Algumas almas maledicentes diriam que poderia ser influência de senhorio, já que ele não fala muito e o que tem a dizer é gastando o estritamente necessário de vocabulário com alta precisão e objetividade. Mas não é, ainda que todo casal passe por um processo simbiótico, um conversor natural das águas do relacionamento, reconheço que sou eu mesma atravessando a minha transformação. Ou fase. Ainda não sei o que é.

Sei que resta ainda uma grande parte imaginativa. Ontem à noite, arrumando a cozinha depois da minha super lasanha à bolonhesa, imaginei histórias que poderia desenvolver. A primeira, a do menino que guardava muito bem imagens, rostos, lugares, sequências, podendo armazenar extenuantes referências que tivessem sido vistas. A outra, já não me lembro. O que somente ilustra como eu posso ainda desconectar-me dos afazeres e das resoluções. A imaginação resta aqui, a exteriorização dela é que passa por esse processo.

Mudando de assunto, dediquei-me à cozinha por esses dias passados. Quase tirei foto do frango ao leite que fiz no sábado, mas a correria do jantar, que envolve negociação com a criançada, arrumar pratos, picar, conversar, acabou por me fazer esquecer de registrar o momento. Ando em experimentação na cozinha. O que antigamente eu fazia de hábito agora virou praça de teste. Por esses dias fiz uma sopa de brócolis deliciosa, n'outro um frango recheado de champignons e salsinha, envolvido por massa folhada e com um molho de vinho branco e mostarda à l'ancienne (não sei mesmo como se chama em português) divino, fiz uma salada com lombo de porco ao molho de soja que também estava bem boa, um petisco recheado de tapenade (uma especiaria feita de azeitonas), uma outra sopa de legumes e laranja. Ando literalmente viajando nos meus livros de receitas, pegando idéias, mudando coisas. Ontem fiz minha tradicional lasanha à bolonhesa - a minha bolonhesa, modéstia à parte, é muito boa. Hoje já estou pensando no que farei pro jantar.

Quem diria, eu, que mal sabia fazer café, assim, toda prendada. Tudo pode acontecer.

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