Cadê a minha insônia?
Todo santo dia a moçoila aqui dorme entre 10 e 11 da noite, o sono chega quase que compulsivo e não é possível lutar contra. O livro do Ken Follet que estou lendo agora, World without end, é bem o que pra mim é Follet: personagens que são acompanhados desde a infância, muita obra arquitetônica, eventos históricos, tramas, dramas, gente que nasce, gente que morre, gente que casa, que enrola, que trai, segredos, trapaças, famílias e muitas, mas muitas páginas. Comecei a lê-lo no avião para as Indias, o encostei enquanto por lá, e retomei no vôo de volta. Nessas, li metade. Desde que cheguei que li 10 páginas. SE eu continuar nesse pique, lá por 2032 eu termino. Tem dias em que nem livro consigo pegar, eu caio na cama e desmaio, literalmente.

A verdade é que eu sei da causa: o nosso hooligan desperta todo santo dia às 5:15. E ele já é tão sistemático do alto de seus 3.5 anos que tem até rotina matinal instaurada. Por meia hora ele brinca no seu quarto, canta e fala consigo mesmo. Passado o limite, começa a mover coisas no seu quarto pelos próximos 15 minutos, falando e falando. Então, resolve que é hora de ir azucrinar a irmã, que aliás é a maior dorminhoca. Adentra o quarto fazendo algazarra e a desperta no susto, o que geralmente resulta em choros suplicantes por mamãe! (porque não chama por papai, ora bolas!) Por lá ele fica pelos próximo 15 minutos e a gorducha alterna os choros com conversas. Aliás, ele adora dar-lhe ordens, e ela adora discordar. Já começaram cedo, literalmente. Então, às 6:15 em ponto, ele adentra nosso quarto trazendo o tapete de letrinhas da gorducha. ENquanto isso, ela clama por Mamaaae! do seu quarto, ao que ele volta, apaga a luz, diz au revoir e bate a porta. Vem pro nosso quarto e eu e senhorio brincamos de nos esconder sob as cobertas. Acende a luz do banheiro (ao menos não a do quarto) e começa a desmantelar o tal tapete de letrinhas, jogando-as em nossa cama e discursando sobre algo ainda para nós ininteligível - ele fala um dialeto próprio entre português-francês-inglês-holandês.

A partir de quarta-feira senhorio e eu começamos as negociações para o final de semana, num rito semanal para ver quem vai se dar melhor - ou pior. Geralmente alternamos, se um acorda no sábado, o outro acorda no domingo e assim vai. Já se foram alguns finais de semanas em que um dorme ambos os dias e o outro não. O problema desses arranjos é que aquele que não dorme fica num mal humor homérico, e muito do bom do final de semana pode ficar comprometido. Logo, evitamos e alternamos.

Encontrei-me outro dia sonhando com a adolescência do hooligan e com a perspectiva de ter que arrancá-lo da cama no domingo de manhã ao brados de preguiçoso, e prometendo horários de cama a serem respeitados na base da marra nas noites de sábado. Dentro de 10 a 12 anos, quem sabe. Enquanto isso sigo dormindo muito, mas muito pesado, obrigada.

Nada como ser polyanna como eu, há sempre algo de bom no reino das dificuldades.