Friday, October 03, 2008

Viagens médicas e folclóricas
Dentro de duas semanas eu vou viajar, como d'antes informado. Hoje, pela manhã, fui à enfermaria para tomar vacinas. Devo ter uns vários carnês de vacinação espalhados pelos tantos lugares pelos quais morei. Lembro-me de que nessa vida adulta já algumas várias vezes tomei vacina - sarampo, toxoplasmose, citomegalovirus, gripe, etc - e em cada vez recebi um carnezinho de vacinação, que foi peremptoriamente esquecido n'alguma gaveta. Ainda recebi um kit-diarréia-malária-desidratação, com uma camisinha ao final lembrando-me dos riscos do HIV. Eu tive que comentar que sou brasileira, e que enquanto brasileira sou exposta todos os anos aos riscos de dengue-diarréia-malária-desidratação, e que no que tange ao HIV, somos também lavados cerebralmente pelas campanhas dos governos durante todos os carnavais. Ela ainda deu o truque da coca-cola sem gás para a diarréia, ao que soltei-lhe um meio-sorriso de já sabia, e ela reciprocou com um entendido.

São curiosas as diferenças culturais, e sobretudo como alguns folclores e costumes tupiquins são, na verdade, práticas médicas. Isso inevitavelmente lembra-me dos folclores de senhorio, que vira e mexe solta-me uma barbaridade desmedida proveniente de sua educação holandesa. Uma delas é que a tal meia de lã deve ser usada até no verão, porque aparentemente é melhor para os pés - e eu tentando visualizar a imagem de um rato de praia a caminho da areia portando meias de lã. Inadmissível, impensável e no mais, completamente sem noção. A outra é quando corta o dedo e eu trago-lhe um copo com gelo para parar de sangrar. Ele jura veementemente que não se pode colocar o tal do corte em líquido algum, porque aí que não vai parar de sangrar é nunca e ainda é capaz do dedo grangenar e cair - tamanho o ênfase dele. Ao que eu tento explicar-lhe que frio é vasoconstritor, mas eu acho que ele nem entende quando digo vasoconstritor - a noção de química e biologia dele gira por volta de -3. Outra crença é quanto às crianças e suas atividades, digamos, arteiras. Se alguém sobe no sofá, ah, mas já vai cair e quebrar o pescoço. Vejam bem, não vai cair e fazer dodói, vai cair e quebrar o pescoço. OU então, se eles começam a brincar com os garfos durante o jantar, têm que parar imediatamente porque senão alguém vai espetar no olho e arrancá-lo fora.

Nossa, e isso tudo saiu porque eu fui à enfermaria? Virgemsanta, e brasileiro, que bobeou já arrumou assunto de absolutamente nada?

2 comments:

Anonymous said...

O senhorio me mata de rir. Delícia. Eu aqui ouço umas barbaridades também. Tipo - que escovar os dentes ANTES das refeições é mais eficaz do que APÓS as mesmas. Algum sentido deve fazer, mas o que ouvi outro dia, que assim, a comida gruda menos, peraí. Quer dizer que se me lambuzar de torrada integral com nutella eu não preciso escovar os dentinhos depois? Que o bafo de cebola é neutralizado por uma boa e prévia escovada com Colgate? Vai explicar isto a um bretão. Sem contar a obsessão com germes e bactérias. Criar resistência aos mesmos não passa pela cabeça das pessoas aqui. Não, é uma guerra constante aos microrganismos. Acho tudo isso muito colonial, sabe.
Beijos!

veridiana.ferrari said...

Margot e daniela, eu me divirto lendo essas coisas. e concordo que as diferenças são culturas, mesmo. mas para além das culturais, eu acho que esses exageros e manias são algo bem peculiar da 'raça' masculina.
claro, não se pode generalizar, mas ja repararam no quanto eles são teimosos, exagerados, cri-cris e intransigentes quando o assunto são essas crenças, independente de quais sejam?
no final das contas, é ótimo, porque rende assunto pra post no blog e pra risadas.
beijo