Brain dead
Hoje estou em estado de torpor. Não consigo trabalhar. Tenho aquelas pendências inimagináveis se acumulando na minha mesa, mas como toda a minha semana foi virada de ponta-cabeças, só vejo o acúmulo se reproduzir.
Estou também com a moral um tanto caída. Eu, que sou de tanta energia e vitalidade, estou assim, meio baunilha, meio mais ou menos, meio sem sal. Claro que o cansaço físico bate, mas acho que vai mais além. Quase não vi meus pequenos essa semana. Ontem cheguei em casa e minha gordinha já tinha ido dormir, e meu hooligan estava em mode pré-naninha. Esse sentimento de culpa maternal seguramente aumenta quando as oportunidades profissionais mostram-se tão complicadas. Porque ao final do dia, me pergunto qual parte de tudo isso que vale a pena. E qual é essa minha necessidade de levar tudo tão a sério, tão duramente comigo mesma. Não sei. Porque nem sempre o reconhecimento vem para aqueles que mais duro dão, mas para os que estão melhor posicionados em determinado momento. É como um jogo de xadrez, tudo depende e inter-depende. Nessas horas eu juro que sinto saudades do setor privado, onde mérito e trabalho são, na maioria das vezes, os propulsores profissionais.
E acho que devo uma explicação ao meu comentário sarcástico abaixo. Devo, enquanto mulher, e sobretudo para mim mesma. Porque sou eu quem vive nessa contradição. Claro que sou mulher que não pode nem nunca poderia ter uma vida de 1930, para casar e ter filhos. Não está, de certa forma e sem querer entrar em detalhes, no meu código genético. E, nesse sentido, sou mulher desses dias, de determinados avanços conquistados, de independência. No entanto, como bem disse a Dani, vivemos ainda num mundo de homens, onde a grande maioria das regras do jogo foram determinadas por eles. Vejo ao meu redor que a mulherada que precisa levar a vida profissional no mesmo patamar de comprometimento masculino, precisa rebolar, se equilibrar e, de certa forma, viver em constante conflito entre a vida familiar e a profissional. Vã ilusão, e aqui vem meu comentário sarcástico, aquelas que pensam que a administração da vida doméstica possa ser feita em 50% pelo homem. Casos raros os que conheço, na verdade, um único somente. Há um certo acordo velado, uma cláusula tácita nos relacionamentos pela qual a mulher fica incumbida dessas firulas domésticas. E condição nenhuma muda esse aspecto quando já instaurado. Et la cerise sur le gâteau, filhos amplificam essa responsabilidade, aumentam desproporcionalmente. Ao menos no meu caso e nos caso de tantas outras amigas profissionais que conheço.
Então que eu vivo nessa contradição. Enquanto eu mesma espero de mim um comprometimento equiparável ao masculino, resta a realidade de que meus colegas homens não têm que chegar em casa para fazer o jantar ou cuidar dos filhos, seja porque as suas mulheres não trabalham, seja porque as mulheres trabalham, mas são ainda elas que assumem a mesma responsabilidade que a minha. De certa forma, nós mesmas que nos sabotamos, verdade seja dita.
E, ao final de tudo isso, os homens têm ainda por cima um certo desprendimento genético da prole em que a falta de tempo para dispender com eles não se traduz em culpa. Acho que a Maria já falou disso uma vez, em algum post. E é verdade. SE o mundo profissional os absorve, eles recuperam quando tiverem tempo, em suas naturalidades irreprochavelmente honestas. Enquanto isso nós, mulheres, sofremos pelo tempo perdido, pelo beijo não dado, pelo carinho não feito, e além de nos consumirmos profissionalmente, nos consumimos pessoalmente por toda a culpa que se alimenta dessas ausências. E, sinceramente, eu não sei como resolver esse imbroglio. E pode ser que isso seja somente uma fase, um dia, um porém e que amanhã eu tenha um pouco mais de paz.
4 comments:
entendi que voce estava sendo sarcastica... sabe, eu acho que é por isso que vou acabar sozinha, porque tenho séerias dificuldades de jogar este jogo, ainda que o faca no automatico muitas vezes. mas tenho algo no meu codigo ancestral que me impede de baixar a cabeca e aceitar isso como regra do jogo - isso, num nivel mais pessoal.
mas, querida, é obvio que o teu cerebro esta fundido - para ser fina e nao dizer o que eu normalmente diria -, voce esta overworked, overloaded. nao vou te dizer o que fazer, porque dizer é facil. mas talvez, se sobrarem neuronios, este seja um bom momento para refletir. para tentar achar alternativas. e, quem sabe, nao vem uma mudanca por ai para amenizar um pouco a loucura que tem sido a sua vida? daquelas, do bem.
aproveite o fim-de-semana, que este clima do inferno astral te abandone!
beijocas,
amore, não tem como resolver. o inbroglio é eterno, enquanto estivermos trabalhando e procriando simultaneamente. o lance é adotar o mode masculino de não se sentir culpada. simples assim. é fácil dizer, claro, mas volta e meia sabe que eu consigo? Beijocas e tenha um ótimo fim de semana!
Sabe, vou te confessar uma coisa, estou refazendo curriculo e correndo atrás daqueles perrengues que essa minha vida nômade me proporciona no quesito trabalhar no que eu sei fazer, estudei e gosto, mas penso 200 vezes mais agora nas oportunidades que aparecem, já me sinto sugada sem trabalhar fora, imagino quando voltar pra labuta! Eu e todas a s mulheres que trabalham ou que ja deram duro te entendem muito bem. Não adianta que por mais moderno que o mundo seja, quem vai pro tanque ainda é a gente. Beijocas querida!
bom dia, flor alpina!!! parabéeennsss, tudo de lindo e bom! fiz um post-it com uma declaração de amor a ti, hehehehehe! breves linhas, que sou péssima com discursos!
enjoy your day!
beijoconas!
Post a Comment