Evolução, involução e minha revolução

Todo mundo prefere olhar para o próprio curso da vida como um processo evolutivo. A gente nasce, cresce, amadurece, aprende, constrói, conquista, evolui. Em princípio, se os blogs são uma reflexão das vidas dos autores, inclusos blogs pessoais e impessoais, esse processo, digamos evolutivo, deveria também ser constatado.

Eu não sei da percepção alheia, mas sei da minha. Claro é que tive tendência no passado a virar leitora de blogs cujos autores passavam pela experiência expatriada, já que essa similaridade parecia nos aproximar. Posts e comentários eventualmetne cessaram esse intercâmbio, mas vez ou outra volto a cruzar os caminhos de determinados blogs (alguns eu nunca mais soube nem vi) e surpreendo-me com a involução, ou digamos retrocesso, dos autores. Alguns dirão que se trata, na verdade, de acúmulo de experiência e, portanto, de evolução. Mas então eu pergunto como resolver essas dicotomias que listo abaixo, e deixo então para cada um fazer a sua própria avaliação:

- Aquela pessoa que conheceu o seu respectivo legalizado marido pela internet, em sites de namoros ou conversas no MSN, e hoje acha uma absurdo essa mulherada que fica perguntando como é que se faz para achar um namorado gringo

- Aquela pessoa que largou tudo no Brasil por conta do amor e foi fazer a vida dura em terra estrangeira aconselhar a todo mundo a não fazer o mesmo porque é tudo muito difícil. Detalhe, deu tudo certo.

- Aquela pessoa que sempre falou tanto da importância do papel da mulher na sociedade, brigou com gente por conta de vídeos que minimizavam a condição feminina, e que fica escrevendo sobre a gordura de fulana, o cabelo de beltrana, o estilo de cigana? Fora a preocupação com a vida alheia, quem fez, quando fez, como fez, se é certo, se é errado, ao mesmo tempo julgando e proferindo frases politicamente corretas?

- Aquela pessoa que usou do seu suporte, da sua ajuda, que viu que nâo tem problemas, a gente se ajuda, se entende e se levanta, se apóia e caminha, mas que naquele dia em que justamente se precisa de ajuda essa pessoa se põe lá bem em cima do muro, bem longe de respingos, bem no abrigo do fogo cruzado?

- Aquela pessoa com a qual vc troca emails pessoais, conta da vida, troca idéia, mostra interesse, e que um dia acorda com a pá-virada, entende tudo errado e te manda um email te chamando de cobras e lagartos, te acusando de coisas inexistentes, demonstrando as próprias frustrações e projetando tudo em vc?

Então, vendo essas coisas ao longo das minhas leituras esporádicas, trocas com algumas poucas amigas, eu concluo o óbvio, que a grande maioria das pessoas, à medida em que o tempo avança, perde aquele afã pelo correto, pela aventura, pela busca da vida e da felicidade, pelo conhecer o próximo. Na verdade, a grande maioria das pessoas se reserva, se fecha, deixa seus valores em prol da tal chamada tranqüilidade (que eu ainda não entendi a que se refere), não consegue dar o mesmo apoio a quem os busca, por arrogância, por inveja, por falta de interesse no próximo, por simples perda daquele espírito que nos faz seguir adiante.

De tudo isso eu faço então a minha própria revolução. Eu tento constatar a minha realidade, olhar pras minhas involuções, restrições e resgatar o que de aventureiro anda escondido e cansado, revelar que por baixo de tanta coisa adulta, tanto compromisso e responsabilidade, eu sou ainda a mesma, não-involuída pessoa, aquela que gosta de amparar, ajudar, dar as mãos e seguir adiante. Estar lá para aqueles que gostam de mim pelo que sou, não pelo interesse vazio, não pela novidade cansada.