Filhos - tê-los ou não tê-los?
Eu já fui parte do time dos duvidosos, daqueles que não tinham certeza sobre procriar ou não. A vida acabou resolvendo por mim, minha primeira gravidez não foi planejada, e passado o abestalhamento inicial, meu e de senhorio, que deve ter durado uma semana, ela foi então muito benvinda. Fato é que se eu tivesse resolver por mim mesma, pode ser que não tivesse me acontecido, verdade seja dita. Porque eu realmente não sabia se queria ter filhos, não sabia se conseguiria arrumar minha vida, não sabia se poderia desempenhar o papel de mãe. E em momento confessionário, esse último item era o que mais me assombrava, e o que me aterrorizou, de certa forma, durante minha primeira gravidez - e que, ainda hoje, me acompanha constantemente.
Li essa reportagem aqui (somente para assinantes) e lembrei-me daquela pessoa que eu era. E a compreendo perfeitamente, conheço bem suas razões. Lendo a reportagem me reconheci em alguns argumentos. Conheço pessoalmente casais que optaram por não ter filhos, e também lembrei-me de que essa decisão é em grande parte determinada pela mulher. Já conheci muitos casais em que o homem, em princípio, não queria filhos, e eis que um belo rebento aparece alguns anos mais tarde com toda a alegria de ambas as partes. Mas, todas as mulheres que conheci que seguramente não queriam filhos, não houve neném algum no futuro. Isso lembrou-me de uma conversa que tive com o meu dotô, em que ele disse que a decisão está sempre com as mulheres, querer ou não querer, a decisão de procriar, perpetuar, é feminina. Ao menos no nosso mundo ocidental semi-civilizado.
Ainda sobre a reportagem, da mesma forma que acho muito estranho quando as pessoas questionam as decisões alheias sobre não terem filhos - mas e se vc se arrepender e o tempo passar e não mais puder?, mas quem vai cuidar de vcs na velhice? - acho igualmente estranho quando esses mesmos que não querem ter filhos se justificam no as mães passam a viver a vida dos filhos, ou então proferem a máxima que gostam de crianças, mas não gostam dos pais. Porque a decisão parece transpassar as razões e convicções pessoais para aquelas alheias ao próprio indivíduo, como se a determinação fosse externa, como se cada um não fosse livre para fazer as próprias escolhas e como se a percepção do que acontece ao redor fosse necessariamente a sua possível versão pessoal de vida. E isso eu realmente acho deveras, deveras estranho.
Eu prefiro a honestidade consigo mesmo. De ter suas escolhas, fazê-las e ser suficientemente corajoso para defendê-las. POrque nem sempre querer precisa ter uma razão, querer (ou não querer) basta-se em si, justificar-se parece vir de quem precisa ou convencer o próximo ou a si mesmo.
Tenho uma grande amiga, de quem tenho um orgulho enorme e por quem nutro uma admiração infinita. E ela não quer ter filhos. Não quer porque não quer, não quer e pronto. ELa não se questiona, ela sabe o que quer e, justamente, o que não quer. Não sente nenhuma vocação para ser mãe, não tem vontade alguma de entrar nesse universo. E acabou. Não há questionamentos, um dia no passado falamos sobre o assunto em que me disse exatamente isso, e eu compartilhei as minhas dúvidas de então. E ficou ali. Vez ou outra, ela comenta que o seu marido eventualmente levanta a questão, em uma batalha que já sabe vencida - talvez seja o hábito - a qual ela lhe responde com o mesmo sonoro, não, não quero, um não querer tão enfático que basta-se em si mesmo, uma segurança sobre sua escolha que não precisa de justificativa.
Eu acho que o mundo seria melhor se pudéssemos fazer nossas escolhas sem precisar diminuir ou ressaltar os defeitos das escolhas que não são as nossas. Todo mundo luta tanto para quebrar tabus, quebrar regras, mas então parece que tudo volta ao início quando um ponto é transposto e que para fazê-lo as pessoas têm que retroceder e negar a escolha do próximo.
Porque eu sou mãe que trabalha fora, sou profissional que tem marido, sou mulher brasileira casada com europeu, sou a filha e a irmã que mora longe, sou a tia que quase não vê os sobrinhos, sou a neta que perde os prováveis últimos anos com a avó, sou a nora e cunhada de cultura latina, de valores latinos, sou a amiga onipresente, sou a amiga distante. Sou tudo isso, e sou por minha escolha. Todas e todos que não fizeram a mesmas escolhas que eu são somente diferentes de mim, com outras vidas, outras escolhas. E minhas escolhas não dão a ninguém o direito de me criticar, porque a única crítica de minha própria vida sou eu mesma, e, honestamente, eu mesma pra criticar me basto.
3 comments:
Pois é. Admiro muito as mulheres que decidem não ter filhos e batem o pé, com conviccão, e afirmam que é isso mesmo, que é isso mesmo que elas querem, e que o mundo que se exploda. É MUITO CORAJOSO. A pressão não é mole não. Já fui assim. Mas aí encontrei o meu urso e eu mudei, talvez porque desde o início minha convicão não tivesse essa força toda, sei lá. A verdade é que ter filho não é decididamente para qualquer um.
por que, andaram te criticando? enfim. ter filhos nem sempre é uma opção (há quem não possa tê-los), mas o é na maioria das vezes. antes, era compulsório. agora, acho que as pessoas estão se sentindo mais à vontade para optar. a minha posição quanto a isso é ambivalente, mas acho que se não fiz nenhum real esforço nesta direção até agora, talvez seja porque já tenha decidido, mesmo que inconscientemente. agora, há uma coisa a respeito da maternidade que me irrita nestes tempos: é que ser mãe virou símbolo de status, por causa das malditas celebridades, que saem exibindo os rebentos como o fazem com aquelas bolsas enormes e cafonas de griffe que, de repente, viraram moda. aqui neste país, as mães são agressivas, se colocam num patamar superior, principalmente nos transportes públicos (bom, a mulherada aqui é agressiva) - ai de quem se colocar na frente delas e seus carrinhos. enfim, é um assunto complexo, mas que não deveria ser. a natureza humana aponta para a procriação, mas como "evoluímos" no sentido intelectual, de poder pensar e fazer escolhas, cada uma que faça o que quiser mesmo. e que não encha o saco dos outros, hehehe!
beijos, e a casa, vc muda quando?
Nao poderia concordar mais com vc, alias, sempre pensei muito sobre isso. Detestava quando me perguntavam quando eu ia ter filhos, e se nao tivesse nunca, tinha problema? Parece que pra maioria das pessoas tem, mesmo hoje em dia. Eu pra te falar a verdade sempre quis mas tinha um pouco de medo de AFIRMAR que queria. Ate que um dia o desejo foi mais forte que o medo da empreitada. Tenho amigas que estao tendo filhos um pouco que por obrigacao social e isso eu nao acho certo, prefiro a honestidade da escolha contra a maternidade, pois como a Maria comentou, nao e pra qualquer um mesmo. Mas isso sem querer dizer que seja algo possivel so a meras pessoas especiais e sim porque e dificil e da um trabalho que, a meu ver, requer muito mais do que amor, requer abdicacao, paciencia e tolerancia em nivel maximo. E vamos tenatando acertar... Beijocas!
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