You tube, myself and my other half
Parte da isolação de se viver um relacionamento onde duas culturas tão diversas se encontram está na ausência de compreensão das diversas referências que temos. Vale frisar que o fato de morarmos ambos em um país e em uma cultura que não nos é original também não ajuda nada. Algumas delas conseguimos estreitar através de temporadas tanto no país dele como no meu, como o Sinterklaas e o Konninggendag ou o Natal no verão tupiniquim, o Ano Novo (e como é importante para nós) e por aí vai. Mas é fato que ele não vai compreender algumas coisas que fazem parte do meu imaginário e da minha história, assim como minha recíproca à história dele não pode ser diferente.
Tempo Perdido, do Legião Urbana, marcou uma época da minha vida. Assim como Óculos, dos Paralamas, ou Sonífera Ilha dos Titãs. O programa do Chacrinha, os festivais da música, a Anistia, Chico & Caetano, a morte de Elis, Balão Mágico, Xuxa, Roque Santeiro (a última novela a qual assisti), Diretas Já, Tancredo Neves, Sarney, planos Cruzeiro, cruzeiro-novo, Cruzado e Real, inflação, híper-inflação, arrestação da poupança, Zélia Cardoso de Mello, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e seu famoso topete, assim como ele no carnaval com a moça sem calcinha, Fernando Henrique Cardoso, Mallan, abertura do mercado, privatização, tudo isso e ainda muito mais é parte da minha história, da minha vida, do meu passado e parte do que sou.
E o You tube é simplesmente um mar de presentes à memória. Sempre que posso vou ao blog do Inagaki, já que ele recheia o próprio com links pro You tube e me dá simplesmente de mão beijada tanta coisa que me remete a períodos, sonhos, a uma outra época, uma parte de mim que passou mas que é inerente e estranhamente está sempre aqui. Quase verti lágrima hoje assistindo ao Legião, já que seu disco Dois é para mim um dos melhores do rock brasileiro. E sinto certas tristeza e solidão por saber que minha metade não pode compreender o que escutar Tempo Perdido representa para mim, e que não adianta nem querer explicar. Porque é querer que ele entenda uma época da minha vida por completo, e apesar de ele conhecer minha história, entrar no detalhe do que Tempo Perdido representa e de como a música toca lá no fundo das entranhas, bem, aí, fica complicado demais. Acho que basta que ele saiba e respeite, esperar que ele absorva por completo é esperança demagógica.
Ainda, tem muita coisa no You Tube que faz parte de ambos nosos imaginários e nossa história. Um deles é essa música, Tomber la Chemise. Agora abri o spread e todo mundo vai achar que somos dois idiotas que se encontraram em suas próprias idiotices. Vá lá, mas assim como não posso explicar pra ele o que Tempo Perdido significa em todos os seus meandros, tampouco posso explicar o que essa música representa pra nós em todos nossos detalhes.
Sendo muito honesta, nesse post meio confessionário, apesar de me sentir por vezes isolada em minhas próprias referências, há um certo e grande alívio de constatar que isso se reflete em nossas individualidades. A gente não muda um ao outro e muito menos entra em processo simbiótico, visto que não há maneira para que ocorra. Talvez seja por isso que de tantos longos relacionamentos que tive - assim como ele, esse foi o tal que vingou. A gente pode até não entender os passados do outro por completo, mas a gente resolve e tenta entender o presente, olha pra frente e segue.
E, claro, é isso que funciona para nós. Cada qual que descubra sua própria receita. Enquanto isso, me afogarei em memórias no You Tube, distantes ou recentes. Porque afinal é tudo parte da minha história.
2 comments:
Exatamente, eu acho isso também. Pra mim não precisa ter o mesmo tipo de referência. As minhas - iguaisinhas às suas - ele não sabe nada. Sei pouco das dele, e as que sei näo acho graça. Mas nunca notei nem em mim nem nele tristeza por isso acontecer. Acho que nos encontramos em tantos outros pontos que seria demais mais isso. Fico feliz por sorrir quando ouço Renato Russo e ele não entende uma palavrinha sequer. Tudo bem.
Oi Maria, e que bom que vcs não têm a melancolia que sinto. :o) Porque no meu lado, dá uma certa solidão, apesar de reconhecê-la saudável. Mas acho que vc está em um outro patamar de distanciamento que eu. Sabe como é, eu sou mesmo melancólica, haja visto minha necessidade anual de colocar os pés em terras tupiniquins. Uma das coisas às quais mais tenho pavor é não poder voltar com freqüência. E acho que sacrifico até mesmo meus gastos alimentares se preciso for para poder fazê-lo. Ih... agora me dei atestado de insanidade, mas acho que já é de conhecimento público! :o) Beijooo,
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