Sunday, October 29, 2006

Perdas, danos e recomeços

Esse final de semana fomos pegos no desenrolar de uma tragédia. Perdemos um amigo querido, numa avalanche no Nepal a 6 mil metros de atitude. Pensar nas 24 horas até seu resgate e nas subseqüentes 2 horas em que ainda sobreviveu, pensar na sua dor, na solidão, e lidar com sua perda tem sido muito difícil. PAra o meu respectivo ainda mais complicado, é a primeira pessoa jovem que conhece que tem a vida levada em um acidente. Estamos de luto. Por ele, por seus amigos, por sua família. Alguém tão querido, tão gentil, tão amado. Perder alguém assim, tão subitamente, tão inesperadamente sempre nos remete a pensar que devemos sempre ser felizes. Estamos aqui, tendo a chance de sermos. É muito triste e incogruente que pensemos nessas coisas somente quando somos colocados de frente com o trágico e irreparável. Deveríamos, cada um de nós, sempre estar em busca de felicidade, minimizar as desventuras, relativizar os problemas. Porque problema de verdade é perder alguém. Pra morte não há recomeço.

Fui eu confrontada também com desafios de pessoas queridas. Gente próxima que não consegue colocar os planos em prática, gente próxima que tenta mas que é inevitavelmente vencido pela natureza e indiscriminada determinação genética. Não há como compreender porque alguns têm tanta chance e outros não. Por vezes chego até mesmo a me sentir culpada por ter muita coisa tão fácil. Algo inexplicável. Cada um tem sua parcela de dissabores, uns mais, outros menos, para alguns os mesmos dissabores podem ser maiores que para outros. Essa indeterminação da vida, injustificada, é uma das grandes razões para que eu não acredite em absolutamente em nada. Não pode ser plano algum, pré-determinação, é tudo somente uma grande casualidade do destino, que traz elementos diversos e combina em determinados resultados, para alguns melhores, para outros nem tanto.

Para aqueles que estão na vida, tudo sempre pode ter um recomeço. Com as feridas, saradas ou não, mas um recomeço. Então, um brinde à chance que todos nós temos de refazer, reinventar, mudar. Sempre.

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