Thursday, September 04, 2008

Cinéfila

Já fui a cinema regularmente assim como era devoradora de vídeos na locadora. O espectro de filmes aos quais assistia era vasto e sempre me mantinha atualizada sobre festivais, novos diretores e roteiristas. A vida então nos apresenta uma outra dinâmica e o que agora me resta como tempo para entregar aos prazeres da sétima arte resume-se à programação do Canal + (muito depois de todo o burburinho, porque eu ainda leio o que se passa aqui e acolá), saídas de DVD (geralmente, os mais comerciais) e cinemas rarissimamente esporádicos. Ainda não vesti a camisa do download pirata, por razões quase pueris, mas sobre as quais não vou discorrer porque esse não é o assunto do qual quero falar.

Como dessas coisas que acontecem sem muito planejar, e por isso mesmo adquirem o gosto especial da surpresa, assisti recentemente a dois filmes muito, mas muito bons. Minhas férias e talvez meu certo ostracismo fizeram-me chegar no início de ambas as histórias sem saber absolutamente nada.

Numa sessão vespertina, fui encontrar uma amiga de longa data no cinema. Por conta do trânsito paulistano, cheguei na sala com o filme já nos primeiros minutos - e que bom presente que foi. O lindo Lemon Tree, um filme israelense, com muita sutileza retrata duas mulheres de lados diferentes da fronteira Israel-Palestina. Longe de questões políticas, apesar de necessariamente estarem ao pano de fundo, o filme toca na individualidade de ambas, tão diametralmente opostas e que vivem na origem do mesmo problema seus períodos de transformação e de, arrisco aqui, feminismo. A beleza da fotografia também é marcante, sente-se ao longo do filme a aridez e inospitalidade da região, como se fosse, na verdade, o terreno pelo qual nós mulheres ainda caminhássemos, nos nossos simples embates de todo dia. Recomendo.

O outro, foi nessa última terça, em casa. Little Children começou como quem não quer nada e me deixou um pouco atônita. Com um narrador situando as emoções dos personagens, o desenrolar da história parece nos contar sobre o que a sociedade puritana americana tem de mais incongruente e doente. Fiquei fixada e o filme deixou-me com um gosto amargo pela disfuncionalidade das relações, o que é mais normal do que o contrário. Ele lembrou-me do caso recente de uma amiga que embarcou em um relacionamento que derrapou, saiu da pista e provocou muitos feridos. E em como hoje em dia a sexualidade é sobreposta às emoções, o que se sente nem tanto parece ser tão importante quanto o que se faz. Depois eu fui saber que esse foi o segundo filme do Todd Field, o mesmo de In the bedroom.

Pois é, ostracismo, de vez em quando, é bom porque traz umas boas inesperadas surpresas. Ao menos.

1 comment:

Dani said...

Tirando o Batman e os DVDs que chegam - mas que demoro dias para abrir - tô super por fora de cinema. Culpa da dissertação, claro. Mas anotarei as dicas, o seu entusiasmo e o olhar sobre os filmes me deram vontade de vê-los!
Beijocas!