Friday, July 25, 2008

A vida depois dos filhos

Lembro-me de quando decidi vir morar por terras frias da excitação pelo novo, da descoberta, das mudanças iminentes, da vida toda que virou do avesso e do começar de novo. Num 2 de janeiro, cheguei em Paris, com duas malas, um laptop, um cartão de crédito, minha câmera fotográfica e muita energia - quem me conhece sabe que em matéria de fogo no rabo eu só devo perder pra Sol. Do alto dos meus 27 anos me sentia adulta e dona do meu nariz, independente e pronta pra encarar bicho feio de frente. Um pouco solitária na minha empreitada, ninguém pra compartilhar, nenhuma cara conhecida para dividir as angústias, os medos, as alegrias. Mas esse pequeno detalhe foi prontamente remediado após poucas semanas de aula. Amizades feitas, outras por fazer, a vida tomou ali o seu próprio rumo. Aquele ano passou que nem vi, e quando acabou eu fiquei com gostinho de quero mais. Naquele ano, apenas 3 meses após minha chegada, tive que tomar rumo ao Brasil para resolver uma pendenga, um detalhe que passou por mim completamente desapercebido e que até hoje me faz perguntar o quão crescidinha e o quão espertinha eu era. Quando daquela volta, não senti nenhuma excitação, nem frisson e nem angústia. Senti mais o desconforto de confrontar-me com minha própria idiotice, isso sim. E passei uma semaninha no Brasil, entre família, amigos e até namorado, e, óbvio, resolvendo a tal pendenga burocrática. Então voltei pras terras gélidas para ficar mais de 1.5 anos sem voltar. Esse foi o período mais longo que fiquei longe.

E a minha relação de ida ao Brasil foi exatamente assim até os idos de 2005, quando grávida, aportei na minha terra pra sair de lá com outro estado civil - mas, vale frisar, guardando o mesmíssimo nome que sempre tive. Não sei se foi porque descontruí algumas coisas da família de senhorio, que me deu um trabalho do cão, ou se porque estava grávida, só sei que foi em 2005 a primeira vez em que a antecipação pela ida tomou conta de mim, assim como a dor de me separar, de voltar, de dar tchau até a próxima vez.

Quando meu pequeno hooligan chegou, a senhora minha mãe veio estar aqui pra dar aquelas assessorias básica de vó. Minha mãe, que nunca foi lá muito maternal, revelou-se muito cheia de qualidades de avó. Até bolo ela queria fazer lá em casa, idéia da qual a dissuadi levando em conta o dublê de forno que à época possuíamos. Quando ela teve que pegar o avião e ir pro Brasil de volta, pela primeira vez nos meus até então 32 anos de existência, ela chorou copiosamente na despedida. Chorou, não, ela soluçou. Aquilo me pegou completamente de calças curtas, e aquele dia também me indicou o que seriam as minhas partidas de volta pra casa.

Agora, sou assumidamente a drama queen de Cumbica. O título é meu e ninguém tasca. Choro mesmo. SEnhorio, com seus pudores holandeses, fica como se tivesse dois braços esquerdos, completamente sem saber o que fazer e achando aquela situação deveras, deveras estranha. As típicas deixas dele são: mas vc não quer ir pra casa? ou então, se vc quiser, a gente larga tudo lá e vem morar no Brasil! ou a máxima das máximas, vc não é feliz onde estamos!. Nessa situação (e em tantas outras) ele não presta pra nada, só pra me encher os ouvidos com frases feitas tão rasas quanto o chão da minha ducha italiana e demonstrando somente que o sentimentalismo holandês é incapaz de captar. Nota zero.

Então que dessa vez eu volto sem ele. Ou melhor, ele volta antes. Por conta de obrigações profissionais, obviamente. Mas eu já estou achando bom. Porque pior do que sentir a dor da despedida, é sentir a dor da despedida e concluir ao mesmo tempo que o marido não entende patavinas de nada do que está acontecendo, afundando-me então na solidão da minha própria dor.

E só pra constar dos autos, virgemsanta, qual é o meu problema, gente boa? Eu nem fui ainda e já estou preocupada com a volta? Não disse que sou a drama queen de Cumbica?

PS> o título de drama queen de Genebra é do Ricardo, só pra esclarecer
PS2> até eu tenho meus dias de mulherzinha

3 comments:

Ma said...

Posso ficar com o título de Drama quenn do Galeão? Menina, eu tento me segurar ao máximo e sempre tenho a certeza de que vou conseguir, mas na hora H me acabo de chorar! E depois fico lá com a cara inchada durante metade do vôo, humpf! Bejos

zabrina said...

Eu so choro no aviao. Me seguro o quanto da pra nao chorar em publico. Mas, quando choro aqui em casa, o marido fica sem saber o que fazer. Pergunta se nao gosto daqui e ja disse que nao muito. E ontem ele chegou a conclusao de que minhas reclamacoes estao corretas. Andou pesquisando na net para saber por quais diachos o povo aqui e tao anti-social. E e mesmo. Sao simpaticos e tal, mas acaba ai. E gozado isso ne? Pesquisar na net pra poder entender o seu proprio povo. Cada um na sua casa, as sujeiras varrem pra debaixo do tapete e emocoes, choro-ro, piti, de jeito nenhum! A mesma pergunta ele faz..vc nao e feliz com sua familia? Ai fica com pena e diz que um dia a gente muda pro Brasil. E ruim hem! Gente estranha...nao visita a mae, a mae nao visita...gente muito estranha!!!

Anonymous said...

Posso ser drama queen de Genebra mas choro é sempre privado...e eu detesto despedida, sempre vou e volto sozinho para o aeroporto.