Tuesday, May 06, 2008

Pause

Eu não me conheço muito bem, mas mais um pouco do que outrora. Sei que ainda tenho que aprender muito sobre meus próprios limites e até onde a corda vai, mas não há outra maneira de fazê-lo senão em crash test. Na hora em que der perda total, a gente troca a lataria, ou pede reembolso pro seguro. Digo isso porque não paro de ouvir de gentes e pessoas que isso que aquilo, que uma hora eu infarto, ou então que eu preciso priorizar, que eu tenho que desacelerar ou que o valha. Acho que isso conota somente uma falta de compreensão sobre o que eu sou, e como talvez nesse específico caso eu sei um pouco mais de mim, apenas aceno um afirmativo resignado com a cabeça. Eu gosto, ainda que em meio a todas minhas maledicências, dessa vida a mil por hora, dando conta de tudo ao mesmo tempo agora, assoviando, chupando cana e tocando bandolim. Eu sou isso. Imcompreensivelmente, esse stress me dá certo prazer, e mesmo que haja gentes e pessoas que devam me achar um pouco doidivanas, é isso aí mesmo.

É certo que eu gostaria de ter um pouco mais de acelerador para as coisas que dáo somente prazer. Mas algo que me dei conta recentemente, é que o prazer das coisas está diretamente ligado à raridade com a qual acontece. A maravilha de um passeio pelo parque com a criançada cresceu em magnitude, justamente porque depois dos meses a fio de inverno, os longos passeios pelo parque estavam na categoria altamente desaconselháveis com dois bigulins que nem sairam das fraldas. Então que domingo estávamos lá no alto da montanha, dando uma volta cheia de mini-surpresas, em um calorzinho de seus 20 e poucos graus, nos divertindo de montão com essa banalidade veronil.

Esse conflito é o que de certa forma me mantém um pouco sã. Ultimamente enfrento também dilemas familiares. Aquelas sobrecargas de família anexas totalmetne desnecessárias e inoportunas teleguiadas pela minha sogra, que tem um coração enorme, mas uma falta de noção igualmente grande. Eu estou nessa vida que parece assim, muito diferente, com marido de um país, morando em outro, falando em ainda outra língua nada a ver com as nacionalidades anteriores. Mas a verdade é que, bottom line, passo pelos mesmos dilemas que outras tantas amigas e amigos meus passam, o como lidar com a família anexa - se houver manual de auto-ajuda, estou comprando. É importante ressaltar que isso não existe para a minha contraparte, já que por uma barreira semi-linguística e outra geográfica, senhorio fica ao abrigo de negociações diplomáticas. E então que o cúmulo do clichê do ordinário acontece comigo nesse lidar, ainda que viva essa vida assim, tão diferente do que parece ser normal.

Tudo isso pra dizer que as coisas não nos acontecem por acaso. Se a minha vida me engole atualmente, grande parte é porque eu realmente fiz para que fosse assim. SE eu tenho uma família em estilo torre de babel, a verdade é que em grande parte fui eu quem escolhi, com família anexa e tudo. Não tem muito mistério. Acidentes acontecem, é verdade, coincidências também. Mas sem entrar em estatística e me atendo a comentário genérico, eu acho que a grande maioria das coisas nos acontece porque a gente só fez para que acontecessem. A vida tem o seu caráter indeterminado, obviamente, de sorte e surpresa. O resto, no entanto, fica por conta da gente mesmo.

Me deu vontade de falar disso agora, vendo o mundo caindo à minha volta, olhando para a próxima semana antes da minha partida para uns 10 dias de trabalho fora daqui, pensando em como eu vou me equilibrar em meio a tanta coisa e tantas expectativas. De malabarismo eu já sei um pouco, de trabalho duro outro tanto. Mas o que mais me assola nesse momento mesmo é a banal e normal saudade que vou ter dos meus dois pequenos. A angústia pela partida tem sido muito dolorida por conta disso, antecipando cada dia que se aproxima e traz mais pra perto o dia em que nos separaremos por duas semanas. E toma proporções inimagináveis. Tanto que todo esse movimento parece entrar em slow motion, quase no pause, eu nem sinto mais aquele afogamento pela vida, as coisas despecam, eu boto de volta no lugar, seguro aqui, ali, me ajeito, me viro, me desviro e estico. E o que resta, é esse meu coração bem ordinário, que pulsa triste por essas 2 semanas por vir longe dos meus lindinhos.

Coração de mãe é assim, ultra babaca, e eu sou babaca na enésima potência.

3 comments:

Ricardo Machado said...

Se lembra do PDF que eu te mandei com os teus transitos? Voce deveria dar uma olhada nele de vez em quando...para entender as fases do transito.

Ma said...

Margot querida, tem épocas que a vida parece que toma conta da gente mais do que a gente dela, né? Te confesso que já fui acelerada assim também, mas depois que puxei o freio de mão na marra, bem que gostei. E sabe, tenho conseguido ler meus livros naqueles poucos minutos antes de cair nos braços de Morfeu. Demora mais do que antes pra chagar ao final, mas pelo menos aquele tempinho é só meu e ninguém tasca! Beijocas no filhotes!

Dani said...

já desisti de me conhecer, sabe. mas enfim. se o speedy mode é o seu, quem serão os outros para contrariá-la? eu sei, eu sei, que sou uma das que te diz para desacelerar. é que estas coisas às vezes dão piripaque na gente viu? eu sou completamente a favor do dar 200% "de si" e de aproveitar o momento. mas. há aquele porém. de que a lentidão nos dá uma apreciação mais exata das coisas, do seu sabor e de sua textura. sem falar dos sentimentos. os sentimentos ali continuam e, não importa o quão rápido corremos, eles sempre nos alcançam.
boa viagem, e que a saudade das crias seja ao menos suportável. they will be fine.
beijocas.