Monday, October 01, 2007

Mãe de segunda viagem

Ontem bati o maior papo com ela via Skype. Acho que ela deve ter um sexto sentido, pois descobriu a hora em que eu estava assim, sem nada pra fazer (a roupa e a casa podem esperar), e arrancamos num papo ali por mais de meia hora. Foi bem bom.

Discoreemos sobre nossas dúvidas maternas e fizemos um escambo de experiências, e como nossos rebentos regulam em idade (têm 2 meses de diferença), vimos e constatamos mais uma vez que não estamos sós - grande novidade, mas é sempre bom relembrar. Rimos muito de nossos infortúnios, porque se há que se padecer no paraíso, que seja com muita graça e bom humor. E acho que pela primeira vez falei mais racionalmente sobre toda a coisa de mãe de dois. Talvez por ter eu estado tão ocupada ultimamente, eu nunca havia parado para pensar sobre o assunto e entender, para mim mesma, os diâmetros desse papel.

SEguramente, a mudança radical, aquela que nos tira o chão, vem com o primeiro. Nossa vida independente, de fazer o que se quer, na hora em que se quer, de poder encher a cara sem se preocupar com a ressaca do dia seguinte, decisões de último minuto, cinema, comer fora de hora, ou simplesmente poder dar um, perdão, foda-se para o que quer que seja, tudo isso e muito mais ficaram num corpo que não mais me pertence. Parece até uma outra vida. E então vem o segundo. E essa sensação de mudança não vem junto, obviamente, porque a vida já mudou faz tempo. O segundo pimpolho vem só agregar, acrescentar, aumentar o que já nos é imposto. Fora que o segundo, coitado, tem muito menos atenções que o primeiro teve - concorrente a esse fato, a mãe também tem muito menos ansiedades, inseguranças e incertezas. Claro que tive que ter meu refresher's course, mas o andar da carruagem tem muito menos tropeços e desvios - se sabe pra onde vai, como vai, a rota já foi percorrida.

Mas, não há que ter ilusões. O trabalho é i-m-e-n-s-o. E, claro, o fato de que somos ambos expatriados, sem família no dobrar da esquina, morando em países onde a ajuda de casa é cara (pra cacete), eu trabalhando o dia inteiro, e ainda mais construindo casa, digamos que eu nem posso dizer que não sei onde amarrei o meu bode, porque foi seguramente na porta do sanatório. Tempo pra mim é uma combinação de palavras sem absolutamente nenhum significado no meu atual contexto. Tem dias em que me sinto, como muitas vezes antes já explicado, impotente diante de todas as minhas tarefas e obrigaçóes. A angústia pela performance como mãe saiu e no lugar dela entrou a ansiedade por poder dar conta de tudo sem ter que comprometer muitas horas de sono.

Pois, ora veja, a mudança é boa, cansativa, porém boa. Esse cansaço é mais um daqueles clichês de mães de segunda viagem. Clichê mesmo - o mundo da maternidade tem uma estranha maneira ordinária de fazer parecer que nossa vida se encheu de algo único e especial. Bem, é único e especial em nosso micro-cosmos, mas é muito ordinário e normal no geral.

Portanto, foi o que disse ontem no papo, quando alguém vem com alguma sabedoria de botequim sobre filhos e educação, eu tomo nota e absorvo, tento realmente aprender. Porque eu sei que nesse seguir há mais clichês do que exceções e eu não tenho mais a pretensão de achar que comigo vai ser diferente. Aliás, essa pretensão ficou realmente naquele outro corpo que não mais me pertence.

Resumée
- Mudamos já algumas caixas no lamacê que está o não-existente jardim de nossa futura casa - Minha 4x4 serve pro tranco nessas horas
- Os sogros foram embora, e consigo levaram os cachorros
- Minha fofinha está assim, com uma dentadura inteira saindo na boca: fora os dois incisivos centrais inferiores que ela já tem, os dois incisivos frontais superiores estão saindo e um incisivo superior esquerdo um incisivo inferior direito já saíram - porque, aparentemente, tem que já vir balanceado. E desculpa aí aos odontologistas de plantão (em especial à Lião) se minhas referências técnicas estão erradas.

4 comments:

Ma said...

Adorei o papo e esta noite parece que ate Juju, apesar do nariz entupido, tambem relaxou e dormiu a noite inteirinha UHU! Beijocas!

Dani said...

quem foi que disse que ser mãe é padecer no paraíso? é lugar-comum, mas pelo que ouço por aí, dos mais exatos. é toda essa trabalheira, mas no final compensa e, com o tempo, sempre repito, tudo tende a se acalmar. os grandes acontecimentos da vida, os bons e os ruins, deixam a gente tonta por um tempo. acho que as pessoas pensam nisso só em relação às coisas ruins, mas não: construir, gerar, procriar, ser feliz ás vezes dá um revertério total na vida. mas é isso, casa quase de pé, fofinha quase pronta para mastigar e o hooligan virando mocinho com cama de gente grande. o tempo voa, não é? e a gente muda - ainda bem.
beijocas,

Maria Fabriani said...

Ai... nem me fale em dois. mal dou conta de um...

Ana Néca said...

E falando em ser mãe... vou aprendendo com você e minha comadre, sem nenhuma pretensão... que minha hora há de chegar.

A fofinha, baby, incisavamente falando, É MUITO FIGURA! :) Uma dentaiada só agora! Linda, Linda. Vai conhecer o João, meu afilhado, quando vier ao Brasil.
http://nossojoao.blogspot.com/
Faço votos de "boa amizade" entre eles... :)
Beijo!