Thursday, November 23, 2006

Anorexia, hipocrisia e consumo
Propositadamente esperei passar um pouco essa comoção quanto à morte da modelo para falar do assunto. A razão vem justamente da hipocrisia generalizada instaurada ao redor, distribuindo a culpa aos fashionistas, às agências de modelos, aos estilistas e às próprias modelos.

Hipocrisia, sim, porque toda essa gente mecionada como responsável está somente trabalhando para um mercado consumidor, gente que compra e gasta o dindinzinho sagrado do final do mês em revistas, roupas, sapatos, cremes, shampoos e afins. Estabelecer tendências vêm de uma camada muito pequena do mercado fashion, a questão do "se a moda pega" é uma resposta de toda a massa consumidora a uma determinada proposta de tendência. Ao meu ver, é o consumidor que mantém o atual padrão de beleza, é o consumidor quem atualmente cultua o magro. E se posso me permitir ir além e estabelecer o gênero, é a consumidora.

Outro fato que embasa a determinação do gênero acima: já escutei de muitos e li nos mais variados estudos apresentados recentemente e que sucederam essa polêmica, que o homens não gostam de mulheres super magras. A ala masculina em geral gosta, no aspecto físico exclusivamente e obviamente, de mulheres que tenham, digamos, sustância. A polícia da magreza é exercida em sua grande magnitude pelas mulheres. Quem já escutou o infame e famoso comentário ela deu uma engordadinha pode na grande maioria dos casos estabelecer que veio de uma mulher, certo? Caso mais recente e de âmbito muito público foi o da internacionalmente achincalhada Britney Spears. Quanta gente não saiu pelo mundo real e virtual falando dos quilos a mais da moça? E dessa gente toda, quantas eram mulheres? E agora enaltecendo que ela perdeu tudinho e que está magra?............ Que vigília é essa?

Essa vitimização própria com a acusação de que é o mundo fasion o culpado e simultâneo suporte ao status quo através das escolhas de consumo e do interesse sobre quem ganhou e quem perdeu peso é um contrasenso. Pode nem ser a consumidora que estabeleça tendências, mas é sim a consumidora quem determina se essas tendências ficam ou não ficam. A polêmica levantada com o caso da modelo que morreu de anorexia parece mandar o seguinte recado aos fashionistas, estilistas e pessoinhas do mundinho:

Façam o favor de dar uma encorpadinha nas modelos aí para que possamos continuar consumindo tudo o que consumimos sem nos sentir culpadas, ainda que continuemos a julgar a mulherada, pública e não-pública, por quantos quilos ou quantas redondezas a mais têm seus corpos.

Ora, sejamos então nós, mulheres, a estabelecer o que é aceitável e comecemos por não comentar as engordadas ou redondezas alheias. Passemos então a consumir o que seja promovido pelo belo e saudável e mesmo, pelo encorpado e pelas mulheres com curvas. E, sobretudo, paremos com essa self-inflicting-victimization. As mulheres têm que se dar conta de que são elas a grande força do mercado consumidor, porque são - há trocentos estudos provando o fato, o primeiro é a mulher, o segundo são as crianças e lá em terceiro são os homens. Parem de falar e atacar o peso alheio, parem de apontar dedos. FAçam no consumo de todo dia o que as tão belas palavras parecem querer dizer. Convertam a retórica em padrão de consumo. E eu prometo que as coisas mudam.

5 comments:

Ricardo Machado said...

Que as esqueléticas me perdoem, mas sustância é fundamental.

Maria Fabriani said...

dá-lhe ricardo! :c)))

(desculpe a intimidade, mas não deu pra evitar)

zabrina said...

Depois desse texto estou me sentindo culpada. Confesso que gostaria de perder uns quilinhos. A barriga não me larga, mas não desejo chegar ao ponto do osso. Quando eu tinha 15 anos, eu queria ser modelo, que nem uma pá de adolescentes. Fiz o book. Pesava 52kg e 1,70m. Magra, magérrima. Não para a agência Ford, que me dispensou dizendo que eu teria que pesar pelo menos 48kg para ter qualquer esperança de participar do casting. Saí de lá perplexa, com os óios arregalados e desisti no ato. Eu era magra naturalmente, comia de tudo. Imagina se eu iria deixar de comer aquele cachorro-quente?Hoje eu peso uns 70kg...ó vida cruel!

GlamBlamBlam said...

Margot,
Concordo totalmente com o seu ponto de vista sobre a anorexia. A escolha é nossa, e a culpa também!
Obrigadíssima pela visita, e pela informação sobre os Gnarls Barkley !!! Procurei tanto sem nunca poder encontrar !
Abraços !

Margot Abirato said...

Ricardo-Vinícius, que existam mais homens no mundo como vc.

Maricota, e dá-lhe Ricardo!

ZAbrina, vc é um mulherão e vc sabe disso. :o) SAúde faz bem, sentir-se bem com nosso próprio corpo também. MAs virar obsessão e polícia para com a mulherada não dá. Já basta a minha própria polícia sobre mim mesma, certo?

Oi Horvallis, seja benvinda. Às ordens, sempre passo lá no seu canto e finalmente deixei um alô. beijo,