Wednesday, October 28, 2009

Ser mãe e a morte
Já deu pra perceber que até que eu lido com essa coisa toda da maternidade de uma maneira leve e, no geral, sou realmente uma mãe que é um pouco desencanada e deixa os pequenos experimentarem da vida com limites bem, digamos, amplos. Não sou de ficar a correr atrás dos miúdos pensando que vão se matar com um novelo de lã, ou que cairão do sofá e partirão as cabeças ao meio. Nessa coisa de viver e testar, conheço muito pouca gente que goste de teoria e abdique da prática, e muito menos gente que goste de teoria ditatorial. Creio que o exercício parental tenha sucesso quando a responsabilidade e as consequências pelas escolhas sejam explicadas, e até onde dá, deixo para os dois baixinhos resolverem se vão ou se ficam e se testam por si mesmos. Isso não quer dizer que não me estresso, que não diga muitos não ou tampouco que não tenha lá minhas ansiedades.

E falando das minhas ansiedades, tenho percebido que sofro de grande dificuldade para explicar a morte. Zé Mané, que é mais velho, é extremamente agitado e se toca no assunto, ele já esqueceu no segundo seguinte e assim evita a prolongação de minha agrura. Dona Maria é uma matraca giratória, fala sem parar e interage o tempo todo, até consigo mesma. Por conta disso, ela me pergunta sempre que vê em algum desenho o que aconteceu com o bichinho / menininho que morreu.

Já cogitei que, talvez, a minha condição de atéia dificulte a explicação. Porque dizer para uma criança de dois anos que morreu, acabou, c'est fini, além de ser cruel, só amplia a oportunidade para mais uma saraivada de questões, às quais, novamente, me colocarão exatamente na mesma situação, perpetuando, complicando e me angustiando. Até o momento eu consegui responder na base do foi embora e não volta mais, assim, em aberto e completamente desarticulada, tanto, que reconheço que nem eu mesma entenda direito o que estou a dizer. Obviamente que essa enganação não vai durar muito tempo, daqui a pouco ela vai voltar e perguntar o foi embora pra onde, como assim não volta, e por que não volta mais - a famosa combinação onde-como-por quê? E, honestamente, eu não faço a mais reles idéia do que responder. Convenhamos, a morte é inquestionavelmente um puta estraga-prazer, tira-gosto e party booper, salvo raros casos em que seja um bem pra humanidade, em sua grande maioria é a tradução de lidar com perda, dor e sofrimento. E para um ateu, um adeus definitivo. Querer mostrar esse lado para uma criança de 2 anos me angustia sim e me faz lembrar que sem dúvida os religiosos são mais felizes.

O que tenho considerado fazer é projetar toda essa coisa da morte para o non-sense total, para o mundo imaginário, de fadas, seres absurdos, gente que vira espírito, gente que vira bicho, gente que vira coisa, vou fazer um shake de um monte de referências e trasnformar em histórias rocambolescas, me enrolar toda e me divertir um pouco. Porque se os religiosos são mais felizes, eu ao menos vou provar que os ateus se divertem mais.

E então, que assim seja. Amém.

3 comments:

Ma said...

Também acho difícil, Juju já me perguntou também e nem deu muita trela pra explicação, porque mais importante era já sair pensando no próximo porquê. Mas eu acabo explicando pelo que eu creio, e realmente deve ser mais fácil pelo referencial, mesmo que a gente só vá descobrir de verdade quando chegar a nossa vez. Mas vou te dizer que a pequena aqui já teve umas experiências digamos com o outro lado que até maridão que é ateu ficou meio cabreiro. Na dúvida mantenho o anjo da guarda em dia. Bjs

Maria Fabriani said...

Dona Maria pergunta sobre o menininho que morreu no desenho? Aos dois anos de idade? Essa menina é um gênio! Meu Max não tem paciência nem de ver o filme todo!
:)

sobre o assunto em si, ainda não chegamos lá...

Ana Néca said...

Que bom que voltou. Adoro ler os teus relatos.

Em especial foi bom hj ler: "Saber que as marés baixas vêm é importante, mas saber que elas se vão é o que faz meus dias."

Tenho precisado me lembrar disso vez o outra. É bom recordar que nos refazemos sempre nesses redemoínhos.

Beijão em vc e na trupe! E boa semana!